terça-feira, 24 de setembro de 2013

Patrimônio Histórico, Estação Ferroviária foi tombado pelo Condephaat



A Estação Ferroviária Chavantes

O pedido de reconhecimento, feito ao Governo do Estado de São Paulo, através do CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico), do reconhecimento do valor Arquitetônico e Histórico da Estação Ferroviária Chavantes através do Tombamento foi aceito. O pedido enviado por Maria Helena Cadamuro, em 2006, foi confirmado: a Estação Ferroviária Chavantes é Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo. Estão incluídos a Praça de acesso, a Vila Ferroviária (Casas n°. 80, 90, 102 e 114), a Caixa D'água, o Armazém de Cargas maior (mais antigo) e o Armazém de Carga menor.

O Tombamento, ato administrativo realizado pelo poder público, tem como objetivo preservar para a população bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e até afetivo. A intenção é impedir que esses bens venham a ser destruídos ou descaracterizados. Para o Estado de São Paulo, o órgão responsável pelos tombamentos é o CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), que confirmou o tombamento da Estação Ferroviária Chavantes.

Maria Helena relatou que agora irá em busca da restauração da estação.



Localizada à Rua Cel. Julio Silva, nº 146, a Estação de Chavantes foi inaugurada em 1909. A construção atual, contudo, data de 192710, pois foi erguida em substituição à edificação pioneira, como era praxe em muitas paradas ferroviárias da Sorocabana. Anteriormente, o local foi utilizado pela Polícia Militar e pela Prefeitura como departamento de Assistência Social. Hoje, abriga o Museu Histórico de Chavantes, cujo acervo contém desde registros bibliográficos e fotográficos, de momentos da história do município, até objetos do cotidiano doados por cidadãos.
A estação, de volumetria retangular, assenta-se lateralmente aos trilhos, com fluxo de passageiros a partir de pequeno jogo de escadas junto à praça a sudeste. Com um único pavimento, o método construtivo adotado foi predominantemente alvenaria de tijolos, restringindo-se o uso de ferro fundido à estrutura de sustentação da cobertura da plataforma - feita em telhas de barro.

O partido arquitetônico exibe uma influência da linguagem associada ao neocolonial brasileiro, como se denotam as envasaduras com formas curvilíneas. Na fachada principal (sudeste), o frontispício é composto por um volume principal e por dois volumes secundários em cada lado. Na parte superior encontram-se frisos coloridos de tom amarelado-ocre, cor também aplicada às colunas “nichadas” (sobressalentes em relação à fachada), ao requadro em relevo das envasaduras e ao barrado existente entre o nível da rua até a altura da soleira na entrada principal.

O corpo central sobressai-se em relação aos laterais por sua composição formada por frontão ladeado por colunas simétricas, ao que a escadaria de acesso confere certo destaque e guardada imponência.

No frontão os ornamentos remetem a formas florais e composições geométricas simétricas. As colunas são encimadas por capitéis, sobre os quais se encontram duas compoteiras. A identificação da companhia ferroviária à qual pertenceu o conjunto é dada pela inscrição, no centro do frontão, da sigla EFS. 


O portão de entrada, de meia altura, foi executado em ferro e recebeu pintura de tom amarronzado, de acordo com a caixilharia do edifício. Seus detalhes, de formas circulares, curvas sinuosas e simétricas, correspondem ao fechamento metálico do vão na parte superior do acesso. A entrada permite o acesso ao salão de guichês – de bilheterias, de pequenas encomendas e de telegrama – e, através dele, à plataforma.


Os corpos laterais do edifício possuem envasaduras compostas por verga recurvada e contra-verga levemente sobressaltadas, cujas esquadrias são constituídas de duas folhas de madeira. Há ainda acessos secundários por meio de escadas em ambas laterais, sendo que o lado sudoeste possui também rampa. Junto à plataforma e a sudoeste, localizam-se os blocos sanitários externos.


Na face voltada para a plataforma (noroeste), a esquadria é mantida como no frontispício, com portas de duas folhas com almofadas retangulares e molduras côncavas simples e detalhes compostos de vidro e madeira. As folhas das janelas possuem tiras de madeira que permitem a ventilação mesmo com seu fechamento, e exibem detalhe vazado de formato losangular e circular no trecho superior. As ombreiras e socas são pouco ornamentadas e destacadas por pequenas elevações, com a mesma tonalidade amarelado-ocre do restante do edifício.


A Estação comporta apenas uma plataforma para o embarque e desembarque de passageiros, contígua ao edifício e lateral à linha férrea, e possui cobertura em telhas metálicas onduladas se estendendo até as extremidades.


Seu sistema estrutural divide-se em dois tipos: no trecho central (junto ao edifício), a cobertura, de uma água, apóia-se parcialmente em tesouras e pilares de ferro com base de concreto e mãos francesas engastadas ao edifício. Nos trechos excedentes, a cobertura possui duas águas e se apóia unicamente sobre as colunas metálicas. O desenho dos pilares caracteriza-se por uma ramificação em duas barras na parte superior, que sustentam as tesouras.

Quanto ao estado de conservação, verifica-se um quadro de percolação (infiltração) por ascendência no embasamento do prédio. Ao longo da plataforma verificam-se desgastes dos encontros da cobertura da plataforma com o corpo do edifício, bem como processo corrosivo das partes metálicas. Internamente, o uso como Museu Municipal enseja a manutenção adequada dos espaços e contribui para a integridade do edifício.

Armazéns de carga
O conjunto ferroviário é composto por dois armazéns de carga, erguidos no lado oposto da linha férrea em relação à Estação. Ambos foram construídos com um pavimento em alvenaria de tijolos e cobertura de telhas cerâmicas.


Aparentemente, o edifício pioneiro é aquele localizado na extremidade sudoeste, como se denota a partir da face “encapsulada” na foto (abaixo a esquerda), tendo sido provavelmente estendido em momento posterior, sem haver distanciamento da fachada nordeste. Segundo levantamento da FEPASA de 1986, o trecho original possuiria 165m², e o prédio contíguo 305m². Atualmente, as envasaduras voltadas para a plataforma encontram-se seladas, provavelmente a fim de se evitarem depredações e ocupações. Notam-se, todavia as vergas retas das antigas aberturas, encimadas por janelas de arco abatido e fechadas por telas metálicas. A cobertura da plataforma, embora metálica, aparenta ser posterior àquela de passageiros, tendo sua água direcionada para as faces do edifício – o que contribui para a degradação da fachada pela percolação descendente. As janelas possuem fechamento metálico, enquanto portas são formadas por duas folhas deslizantes em madeira. 


O armazém a nordeste, de 325m², segundo o referido levantamento, possui pé direito maior, portanto cumeeira mais elevada. A cobertura da plataforma em telhas metálicas, engastada na parede do edifício, foi recentemente alterada para alinhar-se à direção da água do telhado do edifício, reduzindo-se o problema 
verificado no outro armazém. Suas portas estão parcialmente vedadas, enquanto as janelas superiores permanecem com vão desobstruído. 


Em todas as construções, nas faces voltadas à linha férrea verificam-se umidade nas paredes, desprendimento do revestimento e erosão de alguns tijolos, enquanto portas e janelas carecem de manutenção adequada – em claro contraste às fachadas voltadas para a Rua Azarias Bueno, com melhor manutenção. 



Caixa d’água

Localizada na extremidade nordeste da plataforma e próxima à vila ferroviária, possui formato de prisma circular. O reservatório apóia-se sobre estrutura delgada de concreto, e exibe revestimento com massa corrida e pintura, os quais estão parcialmente desprendidos.


Vila Ferroviária

De acordo com o Relatório de Levantamento da FEPASA (1986), a Vila Ferroviária na rua da Estação era composta à época por quinze casas, abrigadas em blocos de residências geminados à esquerda da estação. Destas, as que possuem melhor condição de leitura de uma paisagem de conjunto ferroviário são as quatro dos dois primeiros blocos próximos à Estação. As casas são recuadas com entrada avarandada. 


Inserção urbana e Paisagem

A estação tem a implantação recuada da R. Coronel Júlio Silva, e neste espaço há áreas com vegetação, uma passagem para veículos com paralelepípedos e um ponto de táxi. Subsistem alguns antigos postes de luz metálicos dentre os recentes, em concreto e mais altos.

O entorno da estação de Chavantes compõe-se ainda hoje por galpões, casas e construções de um a dois pavimentos (algumas exceções com três ou quatro), em geral alinhadas ao passeio público e de uso para serviços e comércios. Possivelmente a maior parte dos edifícios é contemporânea à implantação da ferrovia, embora se verifiquem descaracterizações principalmente no ritmo e dimensões das envasaduras, com a substituição da típica caixilharia em madeira por esquadrias metálicas, que não contribuem para a valorização dos edifícios e qualidade ambiental urbana.

Alguns edifícios encontram-se desocupados, tal como os emblemáticos “hotéis de viajantes” geminados defronte à Estação – um deles ainda possuindo a inscrição Hotel Grillo-1923 no topo. Programa tipicamente associado à chegada das ferrovias no interior, mereceria oportunamente um estudo temático de suas tipologias, programas e relações sociais resultantes com as cidades. Não é difícil imaginar nesta rua o antigo trânsito de passageiros e visitantes da Chavantes de meados do século, quando a Estação e o entorno provavelmente conferiam dinâmica à cidadela. 
Esta ambiência nos parece justificar a necessidade de algum controle de transformações da paisagem por meio de estipulação área envoltória, uma vez que se verificam elementos edificados qualificadores do entorno imediato do Conjunto Ferroviário, cuja manutenção e paulatina recuperação poderá contribuir para 
valorizar todo o sítio histórico.


Mapa do Perímetro de Tombamento



Fotos de vistoria ao local em 21.12.2009 e 10.11.2011. 
Autores: Arq. José Antonio C. Zagato e Arq. Adda Ungaretti

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